quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Breves Reflexões Sobre
Solidariedade, Caridade, Filantropia e Beneficência

A solidariedade é marcada pelo sentimento de entreajuda, que leva as pessoas a se auxiliarem mutuamente, movidas pela vontade e prazer em assumir um compromisso de auxiliar as outras, sem pedirem nada em troca. Podemos nos utilizar aqui também, conceitualmente, o jargão “ensinar a pescar”. Esse ditado popular tem como base a natureza da relação desenvolvida entre as partes, aonde um apoia o outro, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do indivíduo mais necessitado.
Entretanto, a caridade é o ato de mover-se por compaixão pelo pesar do próximo e ajudá-lo com bens para que ele se sinta melhor. Muitos acham que esse tipo de ação é alimentado pelas vaidades e demonstra um posicionamento hierárquico de poder entre o ajudante e o ajudado. Sendo assim, nessa linha de pensamento, nesse tipo de “ajuda”, é negada a real vontade de altruísmo e compaixão, para dar lugar ao sentimento negativo da soberba e da vaidade. Creio que quem cultiva essa visão e nega a caridade não acredita em quão bom o ser humano pode ser.
“Solidariedade é a condição do grupo que resulta da comunhão de atitudes e de sentimentos, de modo a constituir o grupo em apreço uma unidade sólida, capaz de resistir às forças exteriores e mesmo de tornar-se ainda mais firme em face de oposição vinda de fora.”
A Solidariedade deve ser fundamentada no sentimento nobre de Justiça e Honestidade. Pode-se dizer que essa Solidariedade fortalece os laços da Fraternidade.
Segundo o dicionário, beneficência é a Inclinação à prática do bem. É a ação de fazer bem a alguém.  O princípio da beneficência estabelece a obrigação moral de agir em benefício dos outros. São considerados sinônimos de beneficência: caridade, filantropia e humanidade. Beneficência, filantropia ou caridade significam amor à humanidade, ao contrário do amor a si próprio ou egoísmo.
Muitas pessoas se colocam contra o assistencialismo, que é um tipo particular de beneficência, enfatizando que o correto é “ensinar a pescar” e não simplesmente “dar o peixe”. O assistencialismo pode ser nocivo ao “dar o peixe”, pois automaticamente é criada a dependência e redução da autoestima.   Entretanto, é inegável que se uma pessoa está morrendo de fome, torna-se necessário dar o alimento antes de cuidar do médio e longo prazo.
Para estarem capacitadas a aprenderem a pescar, as pessoas precisam de apoio, carinho e compaixão, antes da assistência.  Além disso, existe o grande problema de controle da eficácia dos recursos destinados à beneficência. Pôde-se verificar que, normalmente, nas organizações que fazem “mero assistencialismo”, mais de 80% dos recursos vão para os usuários finais, ou seja, para aqueles que realmente precisam de ajuda. Já nas ONGs que “ensinam a pescar”, cerca de 85% das doações terminam em pagamentos aos professores e não convertidas em assistência direta aos alunos carentes. Se, por qualquer motivo, os ensinamentos não forem devidamente absorvidos pelos alunos carentes, trata-se, em última análise, de recursos desperdiçados. Vale dizer que não foi verificada a veracidade dos números percentuais, assumindo-se como verdadeiro os dados colocados no artigo fonte.
Acho importante ambas as posturas, pois parece ter uma interdependência nestas iniciativas. De um lado, para que as pessoas carentes possam ter condições de absorver algum ensinamento é necessário que suas necessidades básicas, por exemplo, de alimentação, estejam atendidas.  Por outro lado, o assistencialismo puro e simples, sem preocupação de capacitação das pessoas para superação daqueles problemas, tende a perpetuar a dependência.
           
As pessoas podem ajudar agindo em várias frentes ao mesmo tempo, pois temos qualificação e aptidão para isso. Sendo assim, temos como ajudar diversas pessoas e instituições. Essa ajuda pode ser em pecúnia e, também, em serviços. Todos desenvolvemos diferentes ofícios que podem auxiliar, com sua expertise, de maneira não onerosa – onerosidade pecuniária -, pessoas carentes. Como exemplo, cito os escritórios modelos que as universidades criaram para prestar serviços gratuitos à população carente, dentre eles: escritório modelo de direito, escritório de auxílio ao empreendedorismo, escritório modelo de contabilidade, dentre outros. Cito ainda a ideia da ação de mediação que o JECrim – Juizado Especial Criminal - de Niterói/RJ vislumbrou implantar nas comunidades, agindo de forma preventiva à concretização de transgressões penais.
Ideias para agirmos in loco, temos várias. Necessitamos apenas de voluntários, força e sabedoria para agir, no intuito de criar uma bela ação social.


Guilherme Luis Dantas Gouget
Unir para Conquistar!



Referências:

http://filhosdehiran.blogspot.com.br/2010/12/caridade-maconica-via-tronco-de.html

http://www.altosgraus.com/content/beneficencia-filantropia-e-caridade-na-maconaria

http://solidariedadesocialonline.blogspot.com.br/2013/04/diferenca-e-solidariedade-e-caridade.html

http://www.clubedobode.com.br/single-post/2016/09/24/Benefic%C3%AAncia-filantropia-e-caridade-na-Ma%C3%A7onaria

http://www.revistauniversomaconico.com.br/vivencia-maconica/fraternidade-e-solidariedade-maconica/






terça-feira, 4 de outubro de 2016

Legado Olímpico Rio 2016: Integração das Forças de Segurança, Inteligência, Defesa.

Eu trabalhei por mais de dois anos no projeto Olimpíadas e Paralimpíadas Rio 2016. Integrei as oficinas que eram responsáveis por desenvolver os Planos Integrados de Segurança e Ordenamento Urbano, além das oficinas de C4 - Coordenação, Comunicação, Comando e Controle. Essa experiência foi algo extraordinário. Aprendi como os outros órgãos pensam e trabalham, seus processos, suas atribuições, seus pontos fortes e pontos a melhorar... Enfim, tive a honra e o prazer de imergir num aprendizado minucioso do funcionamento de cada instituição como se dela eu fizesse parte, emergindo com um know how ímpar. Foi um enorme benchmarking que só foi possível devido à magnitude e complexidade do evento que estava em nossas mãos para organizar. A Integração foi um fator imprescindível, pois só seria possível realizar as Olímpiadas e Paralimpíadas Rio 2016 integrando os recursos e serviços das diversas forças envolvidas, pois nenhuma teria meios suficientes para fazer sozinha esse grandioso Evento.
Conseguimos trabalhar dentro do nível 4 de maturidade elencado pela OTAN, que é o maior nível já trabalhado entre as forças de segurança no Brasil. Demostro esses níveis abaixo, somente a título de curiosidade, sem grandes aprofundamentos. Acho pertinente, pois se falou muito a palavra "integração", mas sem demonstrar conceitualmente o grande feito que isso significa na maturidade organizacional.
•Nível 1 - Operações isoladas/desarticuladas – ambiente antagônico
Uma instituição pode vir a atrapalhar outra instituição, pois não há comunicação a respeito das operações que serão realizadas.
•Nível 2 - Operações harmonizadas – ambiente harmônico
As instituições dão publicidade às operações que serão realizadas, porém atuando de forma independente na missão.
•Nível 3 - Operações coordenadas – ambiente coordenado
As instituições trabalham juntas na mesma missão, mas sem compartilhamento de recursos.
•Nível 4 - Operações integradas – ambiente colaborativo
As instituições trabalham juntas, disponibilizando seus recursos para atuarem em conjunto, porém com cadeia de comando individualizada, isto é, cada recurso é administrado pela próprio órgão. Por exemplo, os serviços de escolta foram realizados com o compartilhamento de recursos podendo ter a seguinte configuração em uma escolta: Helicóptero da Polícia Rodoviária Federal, escolta da Polícia Federal e batedor do Ministério da Defesa. Mas cada força se reporta ao seu coordenador institucional, num ambiente integrado de Comando e Controle.
•Nível 5 - Operações transformadas/coerentes – ambiente ágil
Nessas operações, as instituições compartilham os recursos sobre a coordenação de pontos focais, independente do órgão/instituição de que faça parte. Sendo assim, rompendo uma cadeia de comando institucional, por exemplo, numa escolta de chefe de estado podemos utilizar o Helicóptero da Polícia Rodoviária Federal, a escolta da Polícia Federal e o batedor do Ministério da Defesa sob coordenação de apenas uma das instituições envolvidas.
Trabalharmos juntos em prol das operações integradas nos elevou a um nível de maturidade tal, que não vislumbramos mais a possibilidade de as instituições regredirem nesse aspecto. Mas, para essa visão continuar, temos que implantar nas gerações futuras esse conceito, desde à academia até cursos de pós-graduações, não deixando essa chama se apagar.
Unir para Conquistar!

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O Valor da Vida Humana

Hoje, em uma discussão, me perguntaram qual era o valor da vida humana. Pergunta baseada no risco de vida em alguns projetos e no seu gerenciamento de riscos. Obviamente, a vida humana não pode ser valorada em pecúnia, mas o Direito Pátrio a valora por meios de adicionais de periculosidade e insalubridade, pois muitos serviços, apesar de perigosos, têm que ser feitos para que a sociedade exista e coexista. Podemos elencar o serviço de segurança pública e, mais especificamente, como exemplo de projeto de alto risco de vida, a política de implantação de UPPs nas comunidades cariocas. Para quem não conhece, este é o projeto de pacificação e retomada do controle Estatal das comunidades carentes que são/eram dominadas pela criminalidade, que implantou um poder paralelo. Mas, numa reflexão mais profunda sobre o que significa a perda de uma vida, fico com as palavras do imperador romano Marco Aurélio:
"A morte de um ser humano me empobrece porque é um universo único e irrepetível que deixei de travar contato."
Será que essas palavras se aplicam a todos ou existem pessoas tão pobres de espírito, moral e ética que não podem ser valoradas nas palavras de Marco Aurélio?
Como resposta, digo que todos podem nos acrescentar algo: Seja nas atitudes positivas, que podemos nos espelhar e crescer em valores. Seja nas atitudes negativas, pois, refletindo sobre comportamentos que achamos condenáveis, evoluímos em pensamento crítico e discernimento. 


Guilherme Luis  Dantas Gouget

Unir para conquistar

quinta-feira, 25 de agosto de 2016


Cavaleiro Adormecido


Me retiro, entregando-me aos braços de Morfeu em definitivo, onde consigo viver e encontrar a felicidade por mim inatingível no mundo sombrio onde paira a realidade de meu ser.
Em seus domínios, viajo com elegância e esplendor de tudo que há de mais belo no mundo da imaginação, do que seria uma realidade ideal e perfeita perante os olhos de um romântico de armadura.
O cavalgar é macio e silencioso, a armadura pôde ser deixada no alforje e a espada fixa na bainha, adormecida também, após tantas batalhas travadas na realidade de um reino não divino e pútrido de almas desalmadas.
A não vida ganha sentido após tanto tempo de procura incessante e sem direção de vitória, apenas de intermináveis batalhas travadas por motivos errados.
Os motivos eram belos, porém egocêntrico.
O cavaleiro de coração puro queria tornar o mundo mais belo para que ele pudesse viver de forma pacífica e calorosa, conquistando a paz interior e se desfazendo da grande violência que habita sua alma desde o nascimento
A forma não era a correta, descoberta apenas quando os deuses com pena de sua essência mostraram-no que a Paz só é alcançada... Não apenas pela guerra.
Quando nos convencemos que os inferiores de sentimentos nobres são como cães que ladram sem propósito, que disputam sem motivo, que guerreiam sem uma causa não merecem nossa luz, conseguiremos caminhar.
 Não devemos entrar nos intuitos perturbados desses, apenas se defender, se atacado de forma realmente incisiva à existência do corpo físico e da honra inalienável.
São seres fadados à escuridão e estão no plano correto de sua existência.
Nós, cavaleiros românticos eternamente armadurados no mundo sombrio, estamos para tentar realizar um equilíbrio e não para mudar e aniquilar os que estão na correta terra de seu barão,
Nós, que somos estrangeiros de terras distantes, não estamos aqui para implantar o amor, apenas não o deixar se apagar.
Nos domínios corretos me acolho e descanso adormecendo minha alma guerreante cheia de Paz.

Guilherme Luis Dantas Gouget
Unir para Conquistar



Noites na Taverna

Então me retiro respeitosamente já que a donzela minha, por mim escolhida, já tem em seu coração um amor pulsante e prometido

Ficarei apenas com a luz dos platonicamente apaixonados e desolados, cambaleantes pela noite, voltando de tavernas chorosas desprovidas do amor próprio e com o odor de lamentações

Cuidará de mim?

Em minhas noites de delírios clamando aos anjos que a tragam pra mim e evocando os demônios para que me levem em troca de meu coração apaixonado, com insuportável dor, aos sete círculos do inferno onde terei mais paz.

O viver já é insuportável, o nascer deixou de ser um milagre, as ruas são cinza, coberta por uma névoa de desespero disfarçada pelo sorriso das pessoas onde saem apenas trevas ao invés da luz de seu sorriso.

Essa luz me renova e me irradia às estrelas onde todos me vêem aceso pelo calor do verdadeiro amor.

Quando partes, contigo vai minha vitalidade, minha essência que apenas existe pra te amar e afagar, retirando de meu ser a luz divina por ti derramada, e volto a ser a sombra e a figura que todos nessa terra são sem tua irradiação da áurea celestial,


Espectros.

Guilherme Luis Dantas Gouget
Unir para Conquistar
Livre-Arbítrio

Em minha magnitude exercerei a benevolência deixando-vos caminhar por entre terras desconhecidas desfrutando de seu livre arbítrio num mundo sombrio e cheio de armadilhas.
As escolhas são duvidosas e o certo sempre saberemos quando praticarmos o errado camuflado em razões infames e fúteis.
Dentro deste caminho encontraremos as mais diversas armadilhas que nos entorpecem e tiram o nosso trilhar, nos perdendo em matas escuras e sem saída.
Dei-me o facão para que abra caminho quando me perder nesta e deixe que eu crie um caminho novo e apropriado que permita que outros me sigam para a vitória regido pelo cetro magno ao invés do errado prazeroso.
Em sua benevolência crie meios para que não nos percamos e que como desbravadores em terras inóspitas consigamos encontrar a sua magnitude coberta de sabedoria e razão em suas atitudes danosas, mas não em vão.
Deixe
que sonhemos acordados caminhando num mundo de ilusão, mas não nos tire a percepção crucial para conseguirmos trilhar e chegar à terra do barão e saborear a imensidão do prazer no nada, nos enchendo de satisfação, desprovidos de razões lógicas e racionais de prazer. Apenas nos completando com a felicidade pela energia emanada de você.
Muitos têm tudo, mas são providos do nada. Não aproveitam as trilhas deixadas em suas terras  desfrutando apenas os prazeres do palácio sem sequer saber a origem de sua felicidade infeliz no torpor da penumbra e na embriaguez do espírito zombador que se cria nas noites risonhas e se esconde de dia na dor. Sem imaginar o porquê de tanto sofrimento, busca novamente se encher de vazio fútil e se acolher nos vastos cômodos do palácio com suas cortinas fechadas e pesadas pela inconsciência
De a luz necessária e força para que atravesse e ilumine esses cômodos e traga o correto caminhar aos escudeiros que se perdem quando não encontram quem seguir, são perdidos na imensidão imensurável do livre arbítrio, sendo injusto abandona-los dando lhes esse fardo pesado e cruel, deixe que sejam guiados por cavaleiros honrados já que usará de sua benevolência, não zombando dos que não lhe conhecem.

Guilherme Luis Dantas Gouget


Unir para conquistar
Psicopatias Artísticas
Oh, divas estonteantes que rodeiam minha carne adormecida para o prazer! Leve-me para a alegria dos ébrios, livrando-me do pesar da prisão das responsabilidades, me enchendo de prazer a cada gole de alegria nas tabernas de Baco. Sinto o peso da vida se esvaindo, a cada gole, em irrisórios polens esvoaçantes pelos campos do éden indo germinar outras donzelas. Assim, como eles, quero conquistar essa liberdade divina na leveza dos prazeres que merecemos e temos coragem de conquistá-los, camuflados, apenas no torpor da mente nas noites de liberdade provisória, onde os vícios e as liberdades mundanas são permitidos na calada da noite onde guardam os maiores segredos, mistérios...  À noite nos traz e liberta a vontade mais extrema do ser. As jarras se esvaziam, sinto o meu corpo sendo irrigado de prazer. O primeiro gole é a melhor sensação, onde se sente a terra seca sorver com rapidez e se desmanchar com a primeira gota de chuva, sinto uma sensação de arrepio, como se a bebida percorresse as minhas veias me completando, me transformando... Não transformando, me libertando. Voltando a selvageria e a agressividade natural que o homem precisa libertar na loucura do prazer sufocado por regras sociais de ternura, postura, monogamia, amor à família, respeito ao próximo. Pieguices sociais impostas por todos para aprisionar um maravilhoso caos anárquico que poderia existir nesse glorioso mundo elaborado pelos deuses para ser uma prisão, mas podendo ser rompido com coragem que me é servida pela garçonete da taberna. Ela me traz visões e consigo identificar os erros que as pessoas cometem na luz do dia em sua carapaça social. Enxergo a real vontade e presteza nos gestos de cada um em análise na desenvoltura das gargalhadas nas mesas. Vejo a minha frente mulheres de conduta ilibada e exemplar no dia puritano, onde trabalham presas na agonia da responsabilidade entediante que lhe é trazida no raiar dos dias. O cheiro do sexo delas impregna o ar. Meu olfato começa a se aprimorar a cada baforada do cachimbo preenchido por ervas mágicas. O caçador em mim começa a se libertar. Contido há muitos dias, sua vontade de sentir o cheiro peculiar de sangue tem que esperar a hora correta da captura da presa, se não porá tudo a perder. Mais um copo é esvaziado e desce pela garganta suave no início, mas uma sensação desagradável aos ouvidos contém esse prazer. A sensibilidade auditiva começou a me trazer as vozes que resolvem me ordenar “o que” e “como fazer”. Como se o primogênito da espécie, o qual ensinou a todos caçar, precisasse ouvir lições de vozes adormecidas no tempo incapazes de realizar suas próprias ações. Mas querem se saciar através das atitudes capazes de meu corpo realizar. Ficam como espectadores interagindo, opinando, reclamando... Impulsionando-me. “Silêncio!” - digo lhes. E a paz retorna à observação. Estou pronto.
Estou sentado à mesa no canto do salão onde consigo observar todos. O entrar e sair é grande. Escada oposta à entrada leva ao segundo andar, onde há hospedaria para viajantes realizarem os seus desejos com donzelas diabólicas perdidas na noite, ou descansar para entrar no cotidiano diário monótono, já que andar pelas ruas da cidade liberto pelos psicotrópicos é proibido. Regras de conduta a fim de se evitar a barbárie dos libertos sociais. O salão está completo sem mesas vazias, pessoas em pé próximo ao bar... Excelente. Estou despercebido, infiltrado. Esperando o erro de alguém sair cambaleante pela porta ou subir sozinha as escadas do prazer. Estou ansioso e excitado para realizar meu ato purificador da carne já que será meu primeiro trabalho artístico nessa cidade. Estou ávido para saber as opiniões dos moradores locais e qual estado de pânico, euforia e prazer gerarei a essas pobres criaturas hipócritas. Meus pensamentos percorrem meus sonhos e a imaginação começa a desabrochar... A garçonete se aproxima. Será ela a tela que pintarei e a esculpirei para eternizá-la na mente e quadro de um pintor? Provável. Enquanto me serve toco em seu braço para sentir se a temperatura e textura de seu corpo... É de meu agrado. Meu tato é sensível e através dele sinto como percorrerei e realizarei a minha obra num trabalho manual único. Quero algo macio e quente, sem calos ou asperesidade, sem muitos músculos, algo maleavelmente tenro e leve. Como estou me sentindo. Afinal, O artista revela seus sentimentos na obra. Estudando a obra sabemos o estado de espírito e psique. Por isso tenho que trabalhar e escolher muito detalhadamente a minha matéria-prima para não me fazer interpretar de forma errada, já que não posso participar das discussões e teorias da minha arte, tendo de permanecer oculto, sendo minha assinatura conhecida por todos, mas não o autor. Ela sorri para mim, dentes perfeitos se mostram, apesar de seu canino esquerdo desgastado, provavelmente por verificar moedas do pagamento dos clientes. Simpática. Horas se passam e ela finalmente se dirige às escadas que conduzem ao segundo andar. Preparo-me. Pego minha maleta. E então ela sobe os degraus. Tento conter minha excitação, para não chamar atenção e me dirijo calmamente à escadaria. Todos envoltos em saciar seus desejos não me notam.

Ao chegar ao primeiro degrau vejo apenas a ponta de seu vestido indicando que ela foi para a esquerda do corredor. Fora chamada pelo taberneiro para preparar um quarto para duas freiras que viajavam para um evento na cidade que começaria amanhã. Subo as escadas atentamente, nenhum ruído audível se faz. Tábuas firmes. Chegando ao topo vou à esquerda e lá está a porta escancarada para o prazer. Fito a senhorita por alguns instantes. Pernas longas com joelhos marcados, corpo esguio, cabelos ruivos um pouco abaixo do ombro, cintura fina, busto de tamanhos médios e empinados. Ela se vira e me vê parado frente à porta. Assusta-se. As vozes voltam dizendo para “pega-la” que “a hora se faz quando queremos” e “a hora é essa”. Num leve e rápido movimento desfiro-lhe um golpe na cabeça com minha maleta e ela cai. Fecho a porta atrás de mim com brevidade e me dirijo à menina que está ao chão zonza, mas não inconsciente. Ela murmura algo que não consigo e nem pretendo entender. Olho seu rosto se ficou danificado o suficiente para prejudicar a obra, mas felizmente apenas danos superficiais reparáveis. Certificado a qualidade do produto, posiciono a maleta sobre a cama e a abro. Todo material necessário se encontra envolto a um tecido vermelho de veludo. Pego meu primeiro instrumento: a faca. A garçonete ainda zonza no chão se contorce quando toco em seu rosto e abro sua boca. Pego um alicate na maleta e seguro sua língua com ele a puxando para fora, com a outra mão seguro a faca e a deslizo num golpe único e certeiro. Não gosto que falem durante o meu trabalho artístico, me desconcentra, gosto que apenas observem. Coloco o alicate e a língua cuidadosamente no chão. A menina se contorce em agonia, e desmaia. Pego a cadeira e a coloco sentada amarrada por cordas finas e negras, porém muito resistentes, coloco um lenço vermelho embolado em sua boca para que não produza ruídos. Corto seu vestido e seu corpo nu, branco, reluze para mim. Começo a fatiá-la, retalhá-la, dando vida e forma à minha inspiração artística, um dom nato e único diria, mas não pretendo me gabar. Tendo sempre cuidado em mantê-la viva, a parte mais difícil e chata do meu trabalho. Finito. Mais uma obra concretizada e perfeita. Supero-me mais uma vez. Consigo passar exatamente o que estou sentido. Revelo por completo meu interior em mais uma construção artística. Acordo minha obra e, virada de frente ao espelho do quarto, faço-a contemplar sua beleza. Zonza pela dor não agonizante, por ter usado anestésicos antes de acordá-la, ela arregala os olhos numa mistura de admiração e gratidão, achando-se belíssima. Existem pessoas que têm a sorte de serem escolhidas e ela foi uma delas. Fiz com seu corpo exatamente o que sua alma, numa simbiose com meus sentimentos, no momento desejavam. Assim que escolho minhas matérias-primas, unindo meu sentimento e colocando-as no corpo com a forma correta que lhes era certo. Purificado e cansado removo seus globos oculares e a deixo viva. Consegui conter os sangramentos das amputações perfeitamente, pontos exatos foram aplicados. Seus olhos nunca mais verão uma perfeição como essa, e a imagem mais bela vista será guardada em sua memória, não se poluindo com outras imagens vindouras. Limpo os instrumentos com os panos que ela levava para o quarto, pedaços das amputações coloco em um saco de couro de carneiro, fecho minha maleta negra. Olho suspirando para a última vista da minha obra que breve será profanada, e a inquietude dos movimentos produzidos por ela é magnífico. Uma obra de arte viva, transformada, esculpida. Retiro-me do quarto fechando a porta. O taberneiro sobe as escadas passando por mim, mas não me fita, não me reconheceria. Termino de descê-las, saio pela porta da frente inotável, retornando à minha insignificância social, com um dom artístico imenso e oculto. Mas não me revelo por não ser narcisista.  

Guilherme Luis Dantas Gouget

Unir para conquistar